De mim
Não começo em mim,
Mas me termino
em cada frase dita.
Em cada palavra pensada,
Na poesia escrita,
Em cada rima desatinada.
Não me começo em mim,
Daqui é só continuidade
dos sonhos, das vontades,
das frustrações, das saudades.
Sou continuação do meu pai,
Da minha mãe.
Daquilo que eles cultivaram em mim.
Contínuo como ação do tempo,
Sem precisão,
Só um continuar sem fim.
Eu vou, nessa continência das horas,
divagar sobre quem sou.
Até me perder sem a glória
De quem só saudade sua deixou.
Não sei ser saudoso,
Mas esta fome de alguém, sei sentir.
É um estar partido, faltoso
Prestes a se consumir.