NA CANGA - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros

NA CANGA - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros.

Só um matuto como eu, bate na canga,

pra que o burrico compreenda a direção,

burro domado não precisa dessa zanga,

num simples gesto é que se vê quem é peão.

Quando há, na trilha do destino, a emboscada,

quem dá o tiro, normalmente esconde a cara,

mas se o cavalo do jagunço.

ganha a estrada,

sua espingarda, outro tiro já prepara.

Se um anjo esbarra no cano da dita cuja,

esse projétil disparado se desvia,

e o bandoleiro ganha mesmo, de lambuja,

o artefato, mudando o resto do dia.

Quanta ousadia ou falsidades encenadas

há nas pessoas... é preciso interpretá-las,

sem aplaudi-las, pois quando são exaltadas,

sem merecerem, aprimoram suas falas.

Quem foi roceiro é sempre tão desconfiado,

e não se engana, pois conhece a caninana,

a jararaca, a coral... passando ao lado

mesmo do rabo do guará que... se abana.

Burrico manso não carece de chicote,l

ele conhece o seu ofício e a estrada,

vê cascavéis, mas sabe que elas só dão bote

na ameaça de outra cobra bem mandada.

Roceiro velho como eu, só usa a foice

e a enxada, se o mato é implacável;

burro malandro, quando empaca, guarda o coice

que dá no dono se ele é intolerável.

Meu mundo é como uma estradinha do sertão

que vai tão longe, mas se alguém me diz "bom dia",

com alegria, eu respondo ao cidadão:

Bom dia, amigo, Deus abençoe o seu dia!

Às 21h e 51min do dia 19 de Janeiro de 2023 do Rio de Janeiro. PublIcado e Registrado no Recanto das Letras.