REBENTOS - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros Rio de Janeiro Brasil

REBENTOS - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros

No instante em que nasceste, eu já amava

e já chutava pedras... e xingava!

também já desprezava a hipocrisia,

pois, por sofrer a dor dos desenganos,

eu apostava todos os meus planos

no amor que modelava o que eu sentia..

Eu era o dono vão da (in) verdade,

e discutia tanto a liberdade,

que até desconfiava da história,

porém ouvia os sábios com respeito,

e possuía, dentro do meu peito,

o gosto doce da felicidade.

No entanto, ainda eras um rebento,

e havia no meu velho pensamento

a visão de um caminho ideal

no qual, cada um de nós fosse feliz

e onde todo ser um aprendiz

de algum comportamento fraternal.

Agora, ao te ver tão prepotente,

ou arrogante... e tolo... e Insurgente

contra quem tenha outra opinião,

só resta-me sorrir-te com leveza

e ver se a tua... humana natureza

se irritar com a aridez do chão.

Piedoso, eu me calo ante o que falas,

mas sinto que esta rede onde te embalas

possui, na trama, alguns fios... roídos

por cada intempérie do destino

porque já és adulto... e tão menino...

ao apagar teus sonhos desvalidos.

Agora, condenas quem quer que seja

e a mesma arrogância, que sobeja

afasta-te do teu antigo espelho.

tu sabes não ser dono da verdade...

e, frágil, notas que a felicidade

jamais está na dobra de um joelho.

No instante em que sofrias abandonos,

o amor emoldurava, nos meus sonos

meus tantos abandonos parecidos...

daqueles que se tem, quando sentimos

ao percebermos que, quando partimos,

perdemos nossos sonhos coloridos.

Eu jamais tive tempo de chorar,

e hoje, vendo-te lamuriar

por perdas sempre tolas, naturais,

eu não contenho o riso que me vem

e olho o fato com certo desdém,

pois, como eu, tens tantos ideais.

Nós todos temos uma direção,

nas linhas que rabiscam tua mão,

há rumos abstratos... em qual crês ?

Naquele em que tudo é fantasia,

ou nesse em que a dor de todo dia

jamais se apaga toda de uma vez?

No fundo, buscamos felicidade,

porque sabemos que a ansiedade

nos torna tão fanáticos e tolos,

porque, por sermos rápidos, teimosos,

ficamos, quando idosos, vagarosos

e temos a saudade por consolo.

Não obstante a tudo que eu te disse,

tolice minha ter-te à minha imagem

- como diz o matuto: É "bobice "

ficar remodelando a maquiagem.

As caras aparecem... tenho poucas;

algumas sérias; outras, tão distintas:

reflexivas, místicas ou.. loucas;

no fundo, misturamos nossas tintas.

A vida é um rio, onde naufraga,

o incauto que se julga superior

à correnteza e faz, do remo, a adaga

que possa retalhar, da água, o furor.

Confesso: fui surfista, cada onda

era mais que aventura, era sucesso!

...mas sempre vi que a Terra era redonda;

é assim: o que tão óbvio, não

meço.

Sou velho alpinista do destino; nem sempre minha corda é rompida,

mas quando me transformo num menino,

meu voo supera o tempo e a vida.

Agora que renasces como eu

e vês, no teu rebento, quem tu eras,

percebes que teu pai que é tão... nojento

( sorrisos ) também ama primaveras.

Por isso, meu menino, eu te respeito,

pois somos tão iguais, tão frageizinhos,

que quando te descubro no meu peito,

invento nossos voos... de passarinhos.

Às 10h e 02 min do dia 9 de Janeiro de 2023 do Rio de Janeiro Brasil. Registrado e Publicado no Recanto das Letras.