Desconhecida
Desconhecida (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
O sol matutino cobria a varanda.
Bem arrumada,
De cabelos brancos, bem vestida,
Sentada à cadeira de roda.
Ao lado a enfermeira,
Amiga de primeira,
Oferecia-lhe o copo e algo para comer.
Os olhos dela fingiam-me ver.
Não mexia braço algum
Nem mesmo movimento nenhum.
O casal de canarinhos a fitava
Pois ela está calma e mansa.
Via-se degustar o pão molhado ao café.
No peito, o terço, e se via que tinha muita fé.
Piscava somente os olhos
Mastigando o pão, olhando para os dois filhos.
A neta veio correndo gritar vovó
Com o pano, das rodas, tirava o pó.
Ela olhando para a criança
Que ainda tinha alguma esperança.
Nos olhos saiam lágrimas
De sonhos e esperanças próximas.
À família não era desconhecida
Dizia-lhe o nome de Dona Aparecida.
A manhã foi passando.
A enfermeira foi para a sala a levando.
Não se via mais ninguém naquela varanda.
Somente a netinha fazendo a ciranda.
O sol foi passando e o casal de pássaros voou.