POLINIZ...ARTE - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros

POLINIZ... ARTE - Luiz Poeta Luiz Gilberto de Barros

- Me dê a a mão - pediu a planta trepadeira -

A uma roseira exuberante e delicada,

Que, prontamente, a atendeu, lisonjeada

Com aquele afago de uma amiga tão... faceira.

Mas a plantinha, que a princípio aparentava

Uma ternura tão sublime e envolvente,

Fez do carinho, um abraço intransigente,

Que... mansamente... a roseira... sufocava.

Suas ramagens tão sutis... mas tão nocivas,

Se transformaram em algemas e cipós

Que entrelaçaram-se na... amiga... em fortes nós,

Com suas garras passionais e possessivas.

Brotos, botões e as flores mais maravilhosas

Foram, aos poucos, definhando, entristecidas...

Um jardineiro, preocupado em criar vidas,

Por um instante percebeu a dor das rosas...

E com cuidado, doce afeto e gratidão

Às flores lindas que enfeitavam seu jardim,

Desenlaçou-as das amarras, pondo fim

Àquela cena de tortura e de prisão .

Essa liana leviana e intransigente

Foi conduzida ao habitat de onde viera

Porque a planta que é ruim, sempre se esmera

Em destruir, desde que brota da semente.

Qual trepadeira de aparência inocente

Há muita gente que usa o outro e o destrói

Sem nem saber o quanto o abandono dói

Porém dói mais, sermos usados... falsamente.

A ingenuidade dos que têm algum encanto

Porque produzem, com amor, a criação,

É uma flor que poliniza a emoção

Até com as gotas mais sutis do próprio pranto.

E toda vez que algumas plantas venenosas

Nos despetalam, por inveja ou desamor,

Os nossos polens sempre fazem nossa dor

Se transformar na brotação de novas rosas.

Quem me abandona...após usar-me... é assim:

Sorri comigo e me elogia... mas me cobra.

Só não consegue compreender que a minha obra

É só uma flor que ainda brota em seu jardim.

Às 20h e 30 min do dia 22 de agosto de 2020 do Rio de Janeiro.Recanto das Letras.