antes de dormir é sempre antes de dormir

que seria da noite, sem o sereno em seus cigarros?

que seria da noite, sem as estrelas em seus tragos?

que seria da noite, sem a ressaca da alvorada?

que seria da noite, sem a infinita viagem?

que seria da noite. . .

estimado leitor,

se você pudesse ler as últimas palavras

de meu caderno. . .

não.

se você pudesse ler as últimas folhas

de meu caderno,

notaria o sentimento

em cada letra dos versos,

em cada letra das estrofes,

e também

em cada letra dos parágrafos.

notaria a ansiedade do a, tão tremido

e tão esforçado a ser legível.

notaria o desespero do o, que eu preciso

apagar uma, duas, três vezes, ou até me decidir

se ainda funciona na frase.

notaria que, mesmo escrevendo de lápis,

raramente faço o uso da borracha,

pois há palavras rasuradas

há acentos errados,

há frases deitadas e

há folhas rasgadas.

se eu registrasse as horas, caro leitor,

notaria que dou à luz perante a madrugada,

quando me deito,

quando meu corpo clama o descanso,

me enganando que o dia está terminado.

pois só com a certeza do predicado vomitado

que eu me contento,

que eu me declaro finalmente satisfeito.

Cleber Junior
Enviado por Cleber Junior em 08/11/2022
Código do texto: T7645497
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