antes de dormir é sempre antes de dormir
que seria da noite, sem o sereno em seus cigarros?
que seria da noite, sem as estrelas em seus tragos?
que seria da noite, sem a ressaca da alvorada?
que seria da noite, sem a infinita viagem?
que seria da noite. . .
estimado leitor,
se você pudesse ler as últimas palavras
de meu caderno. . .
não.
se você pudesse ler as últimas folhas
de meu caderno,
notaria o sentimento
em cada letra dos versos,
em cada letra das estrofes,
e também
em cada letra dos parágrafos.
notaria a ansiedade do a, tão tremido
e tão esforçado a ser legível.
notaria o desespero do o, que eu preciso
apagar uma, duas, três vezes, ou até me decidir
se ainda funciona na frase.
notaria que, mesmo escrevendo de lápis,
raramente faço o uso da borracha,
pois há palavras rasuradas
há acentos errados,
há frases deitadas e
há folhas rasgadas.
se eu registrasse as horas, caro leitor,
notaria que dou à luz perante a madrugada,
quando me deito,
quando meu corpo clama o descanso,
me enganando que o dia está terminado.
pois só com a certeza do predicado vomitado
que eu me contento,
que eu me declaro finalmente satisfeito.