Oportunidade
Levantou cedo para enfim
acordar para a vida.
Lavou o rosto na água gelada e olhou o
espelho embaçado. Escovou os dentes
com abruptos movimentos. Virou-se e
foi até o quintal como se lá as respostas estivessem.
Pensou naquela manhã ensolarada:
‘’Eu posso e consigo o que eu quero’’.
Foi para fora tomar um banho de sol,
mas ao sentir o calor na espinha, viu-se perplexo,
percebendo os anos e o tempo perdido.
Mesmo com tais percepções, encarou.
Tomou seu café com gosto de amargura
e comeu o pão com o seu palato ruim.
Saiu na rua determinado. Agora é a hora;
pensou no que poderia estar errado
e assim, acertou o que deve ser feito.
Andando perto dos prédios, viu-se lá em cima…
tantas e tantas vezes ele estava lá, mas dessa
vez, agora realmente estará e assim foi:
pediu a portaria uma oportunidade.
Esperou na recepção um certo tempo.
Olhou o telefone da atendente tocando,
mas sua esperança, telefonando mais.
— Pronto, senhor, pode subir.
Nenhum segurança o acompanha, ele sequer oferece perigo,
e mesmo se oferecesse, já não importa mais.
Aprontou-se para a porta e entrou. Uma reunião
cheia de críticos e invejosos. Pediu a oportunidade;
papo vai, papo vem, conseguiu.
Seu sonho fora realizado, finalmente seu sonho consagrado.
Saiu de lá atônito, viu todo o dinheiro engordando seu bolso.
Aquele emprego mudaria sua vida. Correu pelas escadas
vendo sua alegria cair na vertigem daquele prédio.
No compasso feliz, o abismo apossou conta de seu ser.
O sonho realizado e o contrato social cumprido.
Voltou para casa e chorou perante o sofá da sala.