Morte em vida
Ainda não entendi
Como vim parar aqui,
Fui acusado de um crime
Que não cometi.
Falaram que havia um retrato falado
De um assaltante
Que invadiu um banco.
Nem sei que banco é esse.
Nem conta eu tenho,
O que eu ganho
Mal dá para o alimento.
O policial disse
Que alguém testemunhou
Mas não sei nem o que esse alguém falou.
Fico me indagando:
Por que disse que me viu?
Por que será que mentiu?
Só sei que eu estava no trabalho,
Na hora do assalto,
A câmera da sala até me filmou.
Pena que ninguém na hora averiguou.
Certo dia, fui no trabalho procurado
E por uma escolta policial levado.
Não me acusaram,
Pela atitude já me condenaram.
Algemado me levaram.
Me chamaram de bandido,
Filho da puta, ladrão.
Fui orientado a permanecer calado
Ou tudo contra mim seria usado.
Assim fui conduzido,
Meu orgulho destruído,
Meu respeito das pessoas dali perdido,
Meu trabalho subtraído...
Parecia realmente um marginal.
Não conseguia imaginar
Que no aniversário do meu pai,
O presente seria visitar
O seu filho no sistema prisional.
Quanta vergonha!
Quanta humilhação!
Ser acusado de um crime
Que, segundo a justiça,
Aconteceu no meu horário
De trabalho diário.
Logo eu que tenho
Até registro na carteira de trabalho.
Meu pai já correu atrás
Até das gravações do meu setor,
Comprovando que no dia do assalto
Apareço nas filmagens
Cumprindo meu labor.
Sim, eu estava trabalhando,
Mesmo assim fui acusado,
Encarcerado. .. Um horror!
Meu pai está na correria,
Tenta me libertar todos os dias.
Só queria voltar para casa,
Sinto-me um rejeitado,
Um sem valor, um pobre coitado,
Sentado ao lado do esgoto
Onde nem os ratos me deixam dormir.
Só queria voltar de novo a sorrir...
Não mereço estar aqui!
Na verdade, ninguém merece viver assim!
Preciso sair daqui.
Preciso entregar ao meu pai o abraço
Pelo seu aniversário
Cujo direito me foi usurpado.
Tenho certeza que em seus braços
E da minha família, os meus amores,
Vou conseguir esquecer os horrores
Que tenho sofrido.
Desde que me tiraram a vida
e me trancaram aqui.