Sorvete

A menina sonhadora disse

“Não quero ser um adulto,

uma pia suja exposta ao sol”

Tudo é tão ambíguo e feio

Com a garganta seca

E o cheiro de sempre

Quando chegar a manhã

A resposta certa mudará

Mas eu comprei um sorvete no caminho de casa

E então

Por um momento,

Eu não precisava mais aguentar

Esse completo vazio

Ou preenchê-lo para que ele pudesse fazer sentido

Essa noite

Me dei conta

Daquilo que ignorei

Porém agora não posso lembrar nem sequer sua voz

Algum dia a menina sonhadora

Deixará de pensar em si mesma

Camisas gastas e flores secas

Aquilo que não ponho em palavras

Seguramente não criará raízes profundas

Com as unhas descascadas e esse cheiro de todos os dias

Comecei a buscar

E então

Não sabia nada

De verdade

Senti com certeza a verdade

Foi esmagador

Essa noite

Eu me escondi

Pouco a pouco transbordo e explodo

Até a manhã seguinte

Agora me lembro

Aquilo que não posso dizer

Escrevi em um papel e queimei-o com um isqueiro

Assim como o sorvete derretido

Esta é uma história triste

Me pergunto onde deveria ir

De agora em diante