Enamorada
Para, não chora
O amor não escolhe a hora
Vem e vai embora
Sem nos dar explicação
É um sentimento
Autônomo, errante, vadio
Se estala sem pedir licença
Se vai sem nem mesmo avisar
Até que certo dia
No romper da aurora,
Nem se sabe ao certo a hora
Se vai sem qualquer hesitação
Quando se percebe
Algo novo chegou,
Emoção estranha, despercebida
Foi morar no coração
Fazendo duas vítimas
De um só vez
O olvidado impute a culpa
Apenas ao novo enamorado,
Condendado-o por traição
Muitos dedos em uma só direção são apontados
Esquece-se que um coração
Só é preenchido por estar abandonado
Por que não contabiliza
Que os teus erros são pedras
Que construíram caminhos
Que afastaram o meu coração?
Agora me chama de algoz
Parece que de tudo se esqueceu
Cultivei, cuidei, reguei
De afetos diários
Mas era sempre um movimento solitário
O estar ali para ti bastaria
Frustrado, ressentido, reclamante, acomodado.
Vivia me dizendo que estava tudo errado
Quão eu era entediante
Era isso todo santo dia
Desprezo, ofensas, violações
Nao venha me dizer agora
Que o perdão é importante.
O amor é uma flor delicada
Que não vive se não for cuidada
Aquela que por ti foi
Uma vida negligenciada
Você agora me fala de amor
Esquece-se de todo horror
Depois de tudo que fizeste comigo
Isso beira o ridículo
Até com amante eu te dividi
Traição?... Trai-ção?...
Ainda não, mas deveria...
Chega de ser aquela boba de todo dia
Aquela que queria um príncipe encontrar
Vou-me embora na certeza
De que, sim, sou uma princesa,
Que não precisa de homem algum
Para se libertar
Que na vida demorou,
Mas enfim acordou
E passou a se amar.