Olhos que condenam
No espelho, fico a me olhar,
Começo a chorar,
Não dá para entender
Que tanto horror
Alguns teimam em ver.
O que tem na minha aparência
Que te faz me temer?
Será que todo menino
Na adolescência,
O pai vai esclarecer:
_ Abaixe a cabeça,
Não encare ninguém,
Identidade no bolso
E a chave também.
Se entrar numa loja,
Prefira o corredor lotado
Se gostou de alguma coisa,
Veja, não toque, tome cuidado
As mãos deixe livre
Para aparecer.
Ao policial, seja gentil
Não és mais um civil,
És um menino de cor.
Para alguns, tua pele
Não depõe a teu favor.
Se morar na favela,
Já está condenado.
Nasceu preto, pobre,
És desconsiderado
Julgado, culpado
E à morte sentenciado.
Há quem diga
_ Não é bem assim
Racismo no Brasil,
És desculpa para cotas conseguir.
Que jeito é esse
Com o qual olham para nós?
Em lojas, bares e shopping
Nunca estamos a sós,
São olhares o tempo todo a nos vigiar.
Nessas horas me lembro,
Dos tempos de criança,
À porta, feliz a sorrir,
Finalmente sozinho à escola
Eu passaria a ir,
Minha mãe à janela rezando com fé,
Para seu Deus escutar:
_ Deus te abençoe, meu filho!
Que voltes vivo ao nosso lar!