Enxada
Enxada (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
Debaixo do pé de jabuticaba,
No cabo gasto pelo tempo,
Marcas da ferrugem, ali parada,
Descansa a todo dia, a todo momento,
A enxada larga e velha.
Juntou muita palha,
De arroz e de feijão...
Para o lavrador, foi seu ganha pão.
Foi dinheiro para o patrão.
Ninguém mais a movimenta,
Pouco, a ela se comenta.
Cortou raízes de picão,
Com muita precisão...
Capinou, também, o pé de feijão,
Plantado junto à roça de milho.
Deu-lhes força e brilho.
Limpou o rego de água
Para o dono o agrada...
Desencavou algumas vezes
Por dois ou três meses...
Capinou o canteiro de alface
Transformando-lhe em muita fase...
Cavou para plantar a semente de abóbora,
Debaixo de chuva e na certa hora...
Foi carregada no ombro do lavrador
Mesmo, na coluna, sofrendo dor...
Ali descansa, para sempre...
Não tem mais seu ente,
Para movimentá-la no presente.