Eu vi o tempo...

numa espiral,

passagem de rituais

gravitados

no rasto de um astro cadente,

celebrando

os crepúsculos lilases,

antes que os poentes

se extinguissem

no coração da noite.

Eu vi o tempo

renascido

nas manhãs indeléveis

deste outono

tão avaro de abraços,

cores indistintas...

folhas rendilhadas

de soluços

velando e rogando,

aos alvores macerados,

por um sorriso demorado.

Eu vi o tempo

esconjurado

por ventos de angústia,

súplicas transparentes

flores trespassadas

pelas fragrâncias,

inclinadas

sobre um lago

de nenúfares dourados.

Eu vi o tempo

morrendo e ressuscitando...

- sem nada perguntar,

aprendi a decifrar

os ardores

que o amor sepultou.

 

Ana Andrade