Fissura
Você daria risada se eu te contasse o que sentia naquela época
eu achava que éramos algum tipo de almas gêmeas, e até que nos conhecíamos de vidas passadas
Bobagem
Mas ao menor sinal da tua presença, não sei
Você não tem nenhuma maldita foto sua dos últimos tempos
Nem sozinho, nem com alguém, nenhuma
E também não tiramos nenhuma foto juntos nos nossos dias
E também já faz dois anos que não te vejo
E também não sei mais o que acrescentar.
Você se lembra da última vez que me viu, e eu me lembro da primeira e de todas as outras vezes depois.
E antes.
Acontece que eu não sei nada sobre você
Onde nasceu, do que tem medo, não sei quem é seu pai nem quem é seu irmão
Mas acontece que eu sei as coisas importantes
Sei todos os detalhes
E eu sei o cheiro
E todas as linhas de expessão
E sei também o timbre da voz, o timbre da risada, a hora da fúria
O formato da mão
E a textura do seu toque
E a textura do seu cabelo
E como era respirar perto de você
E toda a profundidade dos olhos castanhos quase pretos, que me convidavam a embracar nessa sua viagem
Sem volta
Meu estômago e todos os meus órgãos estavam sempre em queda livre quando estava contigo
Não quero admitir, mas você sabe.
Não importa o quanto eu possa querer a sensação de novo, e eu poderia usar o desejo aqui, mas é mais do que isso, é querer.
Não importa também toda a bajulação, e nem o quase culto que tínhamos quando estava escuro e não havia mais niguém por perto
Sim, eu sei o quanto posso querer.
Mas a graça dessa droga é a fissura
Depois de feito eu sei o quê vem.
Terceira, ou quarta ruína da minha vida
Já perdi as contas, e não
Continuo sem arrependimento algum, exceto talvez um
Mas fica pra outro tema, poema, dilema.