RONDA A CIDADE

Estranho...

Eu podia jurar que tinha mais calor nesse pôr do sol

mais cores quentes

vermelho-sangue

laranja-neon

amarelo-fogo

mas o cinza da cidade me fez ficar daltônico

"Cadê as cores??"

Não tem ninguém mais pra apreciar o pôr do sol

ninguém mais se importa

cada dia uma pintura diferente.

Picasso

Da Vinci

Monet

Meros amadores diante desse espetáculo.

As luzes da cidade.

Chega a noite.

A fera ronda e espreita

a fera enfezada desfere o golpe e lacera

A fera ruge e procura mais uma vítima fatal.

No seu olhar letal não tem cansaço

nem se sacia a fera

do seu lado animal.

Nunca.

Passo por um bar

atmosfera pesada

como pesados são os risos etílicos e nicotinados.

Pessoas na calçada.

Pessoas se escondendo nas sombras.

Vidas assombradas.

Música alta e ensurdecedora,

o hit hipnotizante do momento é o mesmo há décadas.

Sigo na ronda até chegar em casa.

"Meu Deus...

onde a humanidade perdeu sua humanidade?

Onde aquilo que realmente importava

foi sufocado

por uma felicidade plástica e artificial?"

O cheiro impregnado em mim

trás vertigem e me faz mal.

Tomo um banho

o cheiro persiste

"Gruda na alma da gente sabe?"

E a fera espreita

A fera embosca

A fera também está ferida

A fera é um reflexo no espelho

olho de lampejo

depois do banho planejo me divertir:

"Hoje é dia, baby!! Dia de soltar a fera!!"

A fera do homem é o próprio homem.

A fera dilacera e degusta a presa...

05/05/2022

15:12hrs

Selton A Jhonn s
Enviado por Selton A Jhonn s em 05/05/2022
Reeditado em 06/05/2022
Código do texto: T7509852
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