Tempo
De repente, a velhice vem bater à minha porta.
Primeiro, com batidas tímidas,
Que aos poucos se espaçam com violência.
Acuada no tempo, finjo que não ouço,
E me escondo entre as cortinas...
Também não abro as janelas,
Para não ver a paisagem que aos poucos,
Vai perdendo o colorido lá fora.
O outono parece eterno, dentro de mim.
Sinto-me como o refugiado de guerra
Ao ver-se livre do abrigo,
Contemplando a mutilação da paisagem
Agredida pela insensatez do homem.
Também sinto o tempo invadir meu espaço,
A vida mutilando meus traços
E me entrincheiro dentro de mim.
Lá fora, a distância é enorme,
Entre o ontem que foi e o amanhã que não sei.
Hoje é só mais um dia que veio e nada trouxe,
A não ser lembranças de tempos passados,
Onde eu nem vi que passei...
De portas fechadas, tranco-me na vida,
Presa nas paisagens que lembro coloridas
E ignoro essa penumbra que chega devagar...
Na parede um espelho, que eu sempre evito olhar.