Tempo

De repente, a velhice vem bater à minha porta.

Primeiro, com batidas tímidas,

Que aos poucos se espaçam com violência.

Acuada no tempo, finjo que não ouço,

E me escondo entre as cortinas...

Também não abro as janelas,

Para não ver a paisagem que aos poucos,

Vai perdendo o colorido lá fora.

O outono parece eterno, dentro de mim.

Sinto-me como o refugiado de guerra

Ao ver-se livre do abrigo,

Contemplando a mutilação da paisagem

Agredida pela insensatez do homem.

Também sinto o tempo invadir meu espaço,

A vida mutilando meus traços

E me entrincheiro dentro de mim.

Lá fora, a distância é enorme,

Entre o ontem que foi e o amanhã que não sei.

Hoje é só mais um dia que veio e nada trouxe,

A não ser lembranças de tempos passados,

Onde eu nem vi que passei...

De portas fechadas, tranco-me na vida,

Presa nas paisagens que lembro coloridas

E ignoro essa penumbra que chega devagar...

Na parede um espelho, que eu sempre evito olhar.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 02/05/2022
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