o pulguento indomável

todo fim de tarde,

como um ato religioso,

a minha vizinha abre o seu portão

e sai segurando o seu enorme cachorro

afim de uma caminhada pela rua em que moro.

e é engraçado como,

nos momentos iniciais desse passeio,

o pulguento se permite ser levado sem oferecer qualquer resistência

como se quisesse deixá-la confortável e com a ilusão do controle.

entretanto, em algum ponto aleatório dessa caminhada,

o animal na coleira revolta-se contra o animal com colar.

dali em diante, é ele quem escolhe os caminhos que os dois irão percorrer

e tudo o que ela pode fazer é fingir que está tudo bem

e acenar pra mim enquanto é arrastada por essa pequena máquina

que late com igual ferocidade para gregos e troianos

e preenche de adrenalina aqueles que circulam sobre duas rodas.

eu tenho a impressão de que algum dia ele irá levá-la ao fim do mundo,

pois já percebeu que ela não tem culhões para soltar aquela maldita corda.

Expedito Allison
Enviado por Expedito Allison em 27/04/2022
Reeditado em 09/08/2024
Código do texto: T7504286
Classificação de conteúdo: seguro