O Novo Inseto Kafkiano
Num monótono amanhecer,
Na mesma rotinha até o entardecer,
Sem novos ares, nem vivacidade,
Semeio o cansaço nas pernas perante o desgaste
De longos trajetos urbanos, amontoado com outras pessoas.
Comendo fast foods pelo caminho, observando mendigos nas esquinas,
Me dirijo para o abatedouro de egos - o local de trabalho.
Rodeado de rostos desconhecidos, petrificado em trivialidades,
O que há ao redor não é satisfação...
É apenas disciplina para gerar riqueza alheia.
De segunda a sexta toca uma sirene que decreta o fim do labor, sem nenhum brio.
Nesses dias guardo os instrumentos do oficio,
Dou um sarcástico sorriso e removo cada desanimo para a caixa de derrotas.
No fim do dia, diante de uma intermitente fadiga,
Perante as ocultas grades de uma ditadura com aparência de democracia,
De um delírio real em que escravos se alienam com divertimentos baratos,
Sobrevoo por sobre a acinzentada cidade em busca de algo a mais.
Nos finais de semana, isolado no quarto, pensativo,
Me sinto um inseto perdido nos irracionalismos do mundo.
Sou eu apenas um trabalhador delimitado em uma vida automatizada?
Sou bicho enroscado em conformismo que o mundo ofereceu?
Pateta dissolvido nas propagandas e selfies de redes sociais?
De todos os lados me chegam promessas
E nenhuma preenche o oco da razão.
Eu acompanho as burrocracias do Estado neoliberal,
As maravilhas nas prateleiras dos supermercados
E não vejo senão a coisificação de toda gente,
Pessoas robotizadas e que vivem extintas de vida.
E eu vou vivendo fora de mim... Sou vocábulo alienado
Pelo embrulhar da vida em roteiros bovinamente conformistas.