Teia
Ponto a ponto, de que tamanho
se constrói o núcleo?
Todo epicentro rechaça
até a borda:
o epicentro da loucura
que acomete toda criatura.
Bem certo e tão certo é o centro
de cifras verdes do mundo,
qual potência é tão esmagadora,
como é o da gravidade
exercendo sua força sobre os astros.
Assim rege a iluminadura,
os tópicos e topos em escala,
ordem de figurar no apogeu
onde os céleres fios,
o delgado corpo que se estende, periférico, é
que sustenta
o denso peso do poder total.
Um poeta observa de perto,
muito deveras de dentro,
onde o caos se instaura,
e vê que a grande força está
nesse fio de seda longínquo
que recebe as últimas seivas,
e que a grande aranha
devora a tudo exercendo seu poder
de acumular poder.
Era pra ser um poema,
era pra não se acometer em metáforas e dizer
sucinto
com o escarlate das palavras
derramando em brotos novos
sobre o verso.
Mas a crônica da vida é cruel demais
e as crianças choram lágrimas reais
no colo sujo de seus pais
que abrigam as sarjetas,
os meio fios, as calçadas cinzas
das cidades ranzinzas
onde passam os bons homens, hoje, sem bigode,
ora de gravata ou social sport em seus Sportage
para que não fosse mais possível nenhum outro
poema de sete faces, e sim uma sociedade de
sete pecados com sua roupa capital de capitão
da areia.
E na veia ainda aberta da América
onde cães não latem mais em latim,
nem o evangelho proibido de Madalena se revela mais próximo dos Andes ou das avenidas do
Brasil, jorra um sangue que já se resseca e fana
tanto quanto o brilho da beleza que dura mais
que o apagar de velas da Mesopotâmia
ou dos vagidos africanos
que estilhaçam por cápsulas de balas em espingardas de mil canos
e espalham pelo jardim da terra
a rosa fria de Hiroshima
com seus átomos convergidos
na anti alma do espírito humano.
Em citações sem véu de alguns
poetas que, acima do meu céu,
ainda que palavras sempre se repetem, a inten-
são primeira,
fica em mim como impressão única
que não se cobre com qualquer pedaço de pano,
com a licença poética dos meus manos eu grito
em paráfrases: MENTIRA.
No caminho com Maiakóvski eu ainda perduro,
no caminho justo eu ainda sigo,
na poesia mais simples eu navego
e não, não supro meu ego
assim como o fardo que carrego
de regurgitar o que me é estranho
como a terra regurgita pra fora
o broto do grão de milho.