De Faxineiro
Se já me cumprimentaram?
Mas, claro que não.
Eu de mãos na vara, do esfregão.
Purificando,
as pegadas, sou fora da visão.
Ora, eu conheço...
Conheço a dor, a paz,
a tristeza e a felicidade,
de quem passa naquele chão.
Aquelas pegadas, retratam
vidas, passadas, presentes e
ou até futuras.
No início, incomum pareceu-me,
mas o tempo ensinou-me,
a falar a única língua, homem!
Compreende?
Os metros que separam as pegadas,
que lamacentam o chão,
descrevem bem o que as palavras
limitam em fé, chance, compaixão.
O que faço é limpar o infortúnio,
que cada pé carrega.
Às vezes, temo apagar a essência,
de gente que de cara esfrega,
uma aflição...
Entre os azulejos, estampa-se a ânsia,
retratos da colisão.
Então, firme espezinho a impureza,
limpo, até que o chão reflita a leveza,
das almas.
Volto à casa e, conto este retrato
a um copo de trago, no apitar
de um palito de cigarro.
E a fumaça nubla as visões,
advém-me a paz.