Meu partido
Sambei em mil rodas
Assim como Pelé fez mil gols
Eu nunca toquei samba
O samba que sempre me tocou
Há muito mais educação no terreiro que no plenário
Por isso, eu sou partideiro… não partidário
Aprendi a respeitar primeiro quem chegou primeiro
E não quem tem o maior salário
Não sou partidário, sou partideiro
Aos fariseus não deixarei dinheiro
Meu testamento foi escrito por Candeia
Houve um tempo em que o samba dava cadeia
Oficial batia em quem batia pandeiro
E a cela vivia cheia
Mas o colarinho branco não era presidiário
Não colaria um branco pra mudar esse cenário?
O colarinho branco do copo do pagodeiro
Afogando as mágoas de um passado hereditário
O samba carrega a força do que é ser brasileiro
União, democracia num espaço igualitário
Valores que nosso país só enxerga fevereiro
Mas que deviam existir em todo calendário
Em toda sala, em todo solo, por esse Brasil inteiro
No ministério, no magistério de um sonho mais solidário
Mas, infelizmente o que se vê é o contrário
Exclusão, desigualdade e um líder reacionário
Fiz samba pro Sol nascer
Fiz samba quando ele se pôs
Fiz samba pras moças, pros moços
E pra quem não se identifica com nenhum dos dois
No contratempo desse pensamento quadrado
Se o Brasil fosse uma roda, sem lado
Sem ser partido pelo planalto
Curando o peito partido num partido alto
Teria muito mais alegria, respeito e comunhão
Não seria um descobrimento, seria uma invenção
Só tocaria o instrumento quem soubesse o fundamento
Mas, no fim, todos cantando a mesma canção
No ritmo da percussão bateria o coração
E o povo, em volta, levando o Brasil na palma da mão
Sem a fantasia do noticiário, esse é o Brasil verdadeiro
Dessa parte sou inteiro, é meu jeito de ser revolucionário
Por isso, não sou partidário… sou partideiro