A Própria Cova
A própria cova
(Paulo Gondim)
O que foi sonho se fez treva
Na tua desiludida entrega
Deixa o amor que nega
Por desajustada raiva cega
Pela falsa crença a que se apega
Abortas a felicidade
Diz não se importar com a realidade
Por mero capricho se isola
E nessa relação vazia, se imola
Como vítima de expiação
Sem amor, sem fogo, sem paixão
O tédio preencherá teus dias
Quando te vieres as horas vazias
Na falta do beijo quente
Do abraço por inteiro
Do amor verdadeiro
Seguirás como sombra do que foste
Na palidez da lembrança que não morre
No beijo que darás em outra boca
Sem o calor do corpo e da voz roca
De quando foste realmente feliz
Mas ser feliz já não mais importa
Assim o dizes na incerteza que te faz morta
Em apenas seguir a rotina fria e torta
De um calvário a que submeterás
Não serás feliz, mas se acostumarás
No máximo, se acomodarás
Enquanto em outro pensarás
É tudo muito previsível
O desastre iminente já se mostra
Pois falsa e vaga será essa aposta
Sem o fogo do desejo em tua alcova
Sem a paixão que ainda sentirás por outro
Um salto no escuro para a própria cova