TRANSCENDER ALGO INÚTIL

Estamos livres diante do mórbido

desejo do alcance inexistente,

eu diria, uma pequena farsa humana,

brincadeiras à parte, onde o vento

desaba nossas forças inventivas,

portas quebradas diante das divinas

complacências adverbiadas inodoras,

proeminentes na fábula encantada

das vidas distantes umas das outras.

Sem amparo nem remédio a remediar

todo o caos poético que estremece

as bordas pendentes nos alabastros

de linhas tortuosas, significantes,

desmembradas feito corpo esquartejado

na mesa messiânica da santa ceia,

fermento de um dia qualquer desajustado.

Desejo, oh céus desprotegidos! Desejo demais

os presentes imorais que a vida tem me negado,

pelo absurdo de nunca ter quisto abraçar

essas imagéticas loucuras escaldantes, do fervor

abstrato desse hipotético museu de memórias

absurdas com o desarmar da nossa fé,

sob os arbustos das árvores de algum cemitério

tão obscuro quanto os olhos da coruja

entre os troncos das mesmas.

Nesse desamparo e colérico silêncio

há conquistas demais para serem alcançadas,

iminentemente desenvolvidas pelas pulsões

de algo efêmero denominado vida, mas tão patética

a ponto de não bater de frente com a grandiosa

potencialidade da Dona Morte, sua amiga, sim,

grandes amizades que nascem quando os paralelos

se encontram encrustados numa mesma performance

absorta a qualquer lei física, filosófica e hermética.

Trevas, luzes e afins, tudo conceito prodigioso

dos humanos ávidos por descobrirem quem são,

enquanto perdem quem foram naquilo que almejam

chegar, sem nem sequer poderem desenvolver

dentro deles mesmos, o moroso processo da descoberta

onde a partida é o início do não querer abraçar tudo

ainda que estejam conectados inviolavelmente.

O sufocante argumento desprende toda e qualquer fantasia

ressurgida pela glória imbecil, débil e extremamente egoísta,

amargurada, eu diria, de querer perceber o manual de instruções

pela liberdade do arbítrio, tão sufocante a ponto deste

ser o verdadeiro inferno pelo qual relutamos

toda a nossa vida pequena, em fugir.

Hivton Almeida
Enviado por Hivton Almeida em 31/07/2021
Código do texto: T7310880
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