O Calceteiro
O olhar conhecedor,
a pedra na mão quadrada,
a pancada certeira.
O que ainda há pouco era nada
tomava espaço na ideia
e saía cubo imperfeito.
A imperfeição também se submete ao desenho,
pensou,
e este pedaço de basalto,
escuro de seu natural,
será boa fronteira.
Usa a face mais lisa,
desaperta a camisa,
limpa o suor aos dedos,
faz-lhe na areia a cama e bate leve primeiro,
aperta-a depois e,
pedra linda, coro manso, linha interrompida,
seguirás o destino das demais.
Igual ao modelo, colada ao calcário,
aligeirada na pressa de fazer,
no jeito de dizer sem palavras,
o calceteiro olhou primeiro a pirâmide de pedras
e escolheu outra quase pronta para ser, na calçada,
voz e lisura, passeio.
Assim a vejam com as outras a rendilhar o chão.