O Calceteiro

O olhar conhecedor,

a pedra na mão quadrada,

a pancada certeira.

O que ainda há pouco era nada

tomava espaço na ideia

e saía cubo imperfeito.

A imperfeição também se submete ao desenho,

pensou,

e este pedaço de basalto,

escuro de seu natural,

será boa fronteira.

Usa a face mais lisa,

desaperta a camisa,

limpa o suor aos dedos,

faz-lhe na areia a cama e bate leve primeiro,

aperta-a depois e,

pedra linda, coro manso, linha interrompida,

seguirás o destino das demais.

Igual ao modelo, colada ao calcário,

aligeirada na pressa de fazer,

no jeito de dizer sem palavras,

o calceteiro olhou primeiro a pirâmide de pedras

e escolheu outra quase pronta para ser, na calçada,

voz e lisura, passeio.

Assim a vejam com as outras a rendilhar o chão.

Edgardo Xavier
Enviado por Edgardo Xavier em 15/07/2021
Código do texto: T7300226
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