Tem dias
Tem dias que a gente só quer se calar.
Fechar as cortinas
Pedir perdão aos pássaros e ao sol.
Têm dias que a gente têm preguiça
e sente vergonha em confessar
que não quer fazer nada.
Tem dias que a gente só precisa
de uma velha escrivaninha
caneta e papel apenas.
Tem dias que a gente arrisca
algum incenso que não enjoe.
Tem dias que é preciso escolher entre o café ou chá
Ou optar por nenhum dos dois.
Tem dias que é preciso
da parede retirar
Retratos tão antigos que já não fazem sentido.
Tem dias que é preciso coragem para se suportar.
Tem dias que parece que demora passar
e um simples resfriado
é motivo para desencadear a vontade de jogar tudo para o alto.
Tem dias que o par de meias trocadas já não faz a menor diferença.
Tem dias que a gente esquece a luz acesa.
Tem dias que a gente só quer a companhia de um candieiro.
Tem dias que que a gente abdica da tecnologia.
Entende que tudo em excesso faz mal.
Tem dias que a gente sente falta
Das conversas dos antigos
Dos biscoitos da vovó
Tem dias que nos sentimos frágeis
Frágeis demais para bancar os populares
Tem dias que não queremos holofotes
Tem dias que desejamos ser um simples lavrador
Cuidando da terra
Perdido e solitário entre as hortaliças
Tem dias que arrancamos ervas daninhas
Da própria alma para poder descansar.
Tem dias que não queremos perguntas
E nem respostas.
Têm dias que queremos ser gentis conosco mesmos
E dizer que amanhã será outro dia
e, de fato será.
Tem dias que queremos apenas
o aconchego do colo de Deus.