Tem dias

Tem dias que a gente só quer se calar.

Fechar as cortinas

Pedir perdão aos pássaros e ao sol.

Têm dias que a gente têm preguiça

e sente vergonha em confessar

que não quer fazer nada.

Tem dias que a gente só precisa

de uma velha escrivaninha

caneta e papel apenas.

Tem dias que a gente arrisca

algum incenso que não enjoe.

Tem dias que é preciso escolher entre o café ou chá

Ou optar por nenhum dos dois.

Tem dias que é preciso

da parede retirar

Retratos tão antigos que já não fazem sentido.

Tem dias que é preciso coragem para se suportar.

Tem dias que parece que demora passar

e um simples resfriado

é motivo para desencadear a vontade de jogar tudo para o alto.

Tem dias que o par de meias trocadas já não faz a menor diferença.

Tem dias que a gente esquece a luz acesa.

Tem dias que a gente só quer a companhia de um candieiro.

Tem dias que que a gente abdica da tecnologia.

Entende que tudo em excesso faz mal.

Tem dias que a gente sente falta

Das conversas dos antigos

Dos biscoitos da vovó

Tem dias que nos sentimos frágeis

Frágeis demais para bancar os populares

Tem dias que não queremos holofotes

Tem dias que desejamos ser um simples lavrador

Cuidando da terra

Perdido e solitário entre as hortaliças

Tem dias que arrancamos ervas daninhas

Da própria alma para poder descansar.

Tem dias que não queremos perguntas

E nem respostas.

Têm dias que queremos ser gentis conosco mesmos

E dizer que amanhã será outro dia

e, de fato será.

Tem dias que queremos apenas

o aconchego do colo de Deus.

Andreia Caires
Enviado por Andreia Caires em 09/07/2021
Código do texto: T7295767
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