Não é o de Suely
Hoje ele estava diferente...
Seria o horário? O clima? Ou apenas a percepção de quem o enxergou com outros olhos?
As luzes mais claras, o contraste do céu, poucas nuvens e o mastro sem a velha bandeira rasgada.
Ela chega, ele também, mais um e outro... Rostos conhecidos ou não se misturam na mesma multidão de sempre. Uns entram, outro saem, placas, fumaça, barulho, a trilha sonora sempre alta, aquela menina, os rapazes, café com leite, tudo tão igual como sempre, tudo menos ele.
Seu olhar o encontra novamente, talvez o momento merecesse um registro, mas não foi possível. Ficará registrado na memória só pra confundir se de fato havia alguma diferença de dias atrás, ou foi apenas um "delírio", coisa da cabeça de quem procura algo diferente em tudo, invenção, um pouco loucura talvez, influência do dia anterior, da noite anterior, de toda a vida anterior a esse dia, em que finalmente foi perceptível ver essa mudança.
O tempo passa e as coisas vão se normalizando, o raiar do sol ajuda a por tudo na mesmice de sempre, enquanto ele vem me levar como é de costume. Agora olhando pra lá não se enxerga mais o que se via à poucos minutos atrás, outros pensamentos tomam conta no caminho e aquela paisagem fica enquanto ele segue com sua obrigação diária.
Mas ao fechar os olhos e enxergar lá dentro de si, dá pra sentir a diferença, de um de outro, os dois já não são os mesmos, a paisagem muda ciclicamente enquanto ele talvez queira apenas quebrar o seu ciclo, a certeza de um e a dúvida do outro fazem cada qual ser o que é.
O fim da primeira parte da jornada se aproxima, a mente ainda a refletir aquela diferença, aquela mudança, imaginando como seria mudar assim e depois retornar ao que era antes em tão pouco.
Agora já não é hora mais pra essas reflexões, ela vem ao meu encontro feliz como sempre, ela nunca muda, mas o faz mudar repentinamente e esquecer tudo aquilo que estava em sua mente até alguns segundos.
De fato, estava diferente!