Ocaso

Denise Reis

quando a morte chegar

vai me encontra insone

transitando incólume

entre os sábados e os silêncios

estarei profanando a analise sintática

das frases liquidas e conjunções acediosas...

e pensar que ainda ontem

tinha como sustento os imensuráveis

- era criança e seus sortilégios

com refúgios intocáveis

confesso: nunca fui devota ao tempo

meu primeiro verso foi em tristeza ritmada

com propósitos de reza e ascensão

-perdão para a alma pouco adensada

sempre tive ascendência ao vento

e fluência em revoada vogal

trago minúsculos coágulos poéticos

transito venoso em veia astral

quando a morte chegar

saberá do adiantado pontual

não me encontrará prosa

como os inconformados

nem inteiramente serena

como os avessos das manhas

não terá na pálpebra fechada

o esmo voo das orações

quando a morte chegar

não estarei com a lírica pronta

nem com flores no cabelo e a rota decorada

mesmo assim seguiremos pela (in)finita estrada

até que a insustentável falta de assunto

peça licença aos presságios do alvorecer

e invada com suas mãos plenas de azul

a leve alma acariciada por palavras

que tudo que fez na vida

foi sem receios-intensamente viver.

Denise Reis
Enviado por Denise Reis em 02/07/2021
Reeditado em 02/07/2021
Código do texto: T7291614
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