Ocaso
Denise Reis
quando a morte chegar
vai me encontra insone
transitando incólume
entre os sábados e os silêncios
estarei profanando a analise sintática
das frases liquidas e conjunções acediosas...
e pensar que ainda ontem
tinha como sustento os imensuráveis
- era criança e seus sortilégios
com refúgios intocáveis
confesso: nunca fui devota ao tempo
meu primeiro verso foi em tristeza ritmada
com propósitos de reza e ascensão
-perdão para a alma pouco adensada
sempre tive ascendência ao vento
e fluência em revoada vogal
trago minúsculos coágulos poéticos
transito venoso em veia astral
quando a morte chegar
saberá do adiantado pontual
não me encontrará prosa
como os inconformados
nem inteiramente serena
como os avessos das manhas
não terá na pálpebra fechada
o esmo voo das orações
quando a morte chegar
não estarei com a lírica pronta
nem com flores no cabelo e a rota decorada
mesmo assim seguiremos pela (in)finita estrada
até que a insustentável falta de assunto
peça licença aos presságios do alvorecer
e invada com suas mãos plenas de azul
a leve alma acariciada por palavras
que tudo que fez na vida
foi sem receios-intensamente viver.