Ato de confissão
Falo sobre a dor
A que sai das gargantas
A que se abriga num grito
A que é abafada
Nos hospitais
Nos campos santos
Nas calçadas.
Falo da dor dos aflitos
Dos que desejam a paz
Dos que promovem a guerra.
Mas a minha,
De tão pesada, não ouso falar
É demasiada.
Só quando tudo se apaga
No claustro, sufocada
Confesso a dor para a madrugada.
Queria carregar também a dor
Dos que me cercam na jornada
Dividir pão, o pranto, a solidão
O abandono de cada irmão
Que por mim passa
Faço o que posso, quando não dá...
Sou a ostra, me fecho.