DIÓGENES DO RIO
DIÓGENES NO CENTRO DO RIO
Pensando em Manuel Bandeira e Clarice Lispector
Na Rua Alcindo Guanabara,
centro do Rio de Janeiro,
sob a marquise, ele dorme,
acompanhado de seu cão amigo,
companheiro de fome,
de frio e de exclusão,
enquanto a cidade se movimenta
desatenta,
sem coração,
com incerta direção.
O vento frio da noite,
com desumano açoite,
congela sua alma,
varre seu nome,
sua existência:
é pedra qualquer
disposta à inevitável erosão.
Já não é mais um homem
para aquele que passa?
Não é mais um cidadão?
O bicho,
metáfora do lixo,
é um homem,
um ser humano em desgraça
vivendo em seu mundo,
em seu submundo,
em sua terra sem nome,
- a dor da fome o consome -,
em meio à correria
fria
da petrificada multidão.
NELSON MARZULLO TANGERINI