VERSOS AO SENHOR ENGENHEIRO

Senhor Engenheiro,

depois que construístes este prédio

nunca mais pude ver

a serra da Piedade

e aquela casinha caiada

perdida na imensidão vespertina.

Senhor Engenheiro,

depois que concretizastes vosso sonho

fiquei a imaginar as chuvas apressadas

descendo a serra

crianças de mochilas subindo as ladeiras,

o Cruzeiro iluminando-se ao anoitecer.

Senhor Engenheiro,

com vosso projeto dito progressista

cobristes com eterna sombra

os bancos e as calçadas da Praça

a piscina da vizinha,

meus obscenos sonhos de primavera.

Senhor Engenheiro,

quando cedestes ao chamado

do insensível capital

esquecestes que além de dígitos

contas bancárias

concreto e fama

alguém na janela

não veria mais os pombos

no telhado da Matriz

a banda passando no treze de maio

pela Floriano Peixoto

a chuva descendo nervosa

a Serra da Piedade.

Raphael Cerqueira Silva
Enviado por Raphael Cerqueira Silva em 23/06/2021
Reeditado em 23/06/2021
Código do texto: T7285299
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