TRATADO DA IRRELEVÂNCIA

Tudo me parece inútil

Inclusive estar escrevendo

Pra que servem as horas?

Um passo a passo ao nada

Minha memória será um borrão

Em um ano, ou menos, esquecerão

O absoluto nada que fui.

No meio de tanta ignorância

Pra que serve a instrução?

Cada cego ama não ter visão

Numa terra seca como a minha.

Tudo me parece inútil,

mas escrevo pelo fútil

desejo se ser útil.

Oh! até você terá outro

Quando sumir desse pó

Para dizer o mesmo ouro

Em nossa multidão a sós.

Talvez o inútil explique a vida

enquanto o útil a mecaniza

Se for assim a utilidade é oca

e a inutilidade, espirituosa,

a suporta gota a gota.

Nas lápides dos úteis escorrem homenagens

enquanto aos inúteis, só, um epitáfio importa:

"Fiz o que amei e amei o que fiz"

O cavaleiro branco bate à porta

Leva-me ao santuário de dura cerviz

Onde eu me sinto em voga.

John Grafia
Enviado por John Grafia em 12/06/2021
Código do texto: T7277241
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