GÊNESE
Uma borboleta escapuliu
dos meus sonhos
buscou campos risonhos.
Pela janela saiu
pousou no jardim da Estela
entre os jasmins e a azaleia.
Na rua, insatisfação:
demoram as respostas
a cada dia encarece o pão.
No Planalto, desordem e hipocrisia.
Um Cristo desanimado pende
na parede da padaria.
A doutora do 69 abriu o portão
disse coisas que não cabem numa canção.
Não difere do velho da sorveteria
que esbraveja noite e dia
contra a juventude, a inflação
o verão... minha poesia.
À noite, criarei outra borboleta:
pousará na janela do menino Luiz
para fazê-lo ainda mais feliz.