Diferentes mas iguais

Final de tarde, lindo pôr-do-sol, temperatura amena

Parado no ponto de ônibus, quando olho para um prédio

cercado por grades e matos no penúltimo andar

vejo na janela uma gaiola com um pássaro preso nela, se debatendo todo angustiado e desesperado porque aquilo que tinha de mais precioso lhe foi tirado: sua liberdade!

Quão terrível é para aquele pássaro não poder levantar suas asas e voar de maneira livre, leve e solta

Ainda mais longe de seu ambiente, vendo o mato, às arvores atrás de uma gaiola

Horrível é a situação daquele passarinho!

Semelhante fato vive o poeta preso pelas convenções, padrões, esteriótipos sociais,encarcerado por rimas, métricas, redondilhas, modelos pré-fabricados de escrita, tipos de leitura já definidos, gostos condicionados

O poeta também se debate todo porque seu poema não pode mais levantar as asas da imaginação e voar pelo céu da criatividade de maneira livre

A diferença é que o passarinho ainda pode ver a natureza por detrás das grades, o poeta em "liberdade" vê somente prédios, construções, carros, engarrafamentos, pessoas correndo apressadas de um lado para outro sem rumo, gente trancafiada dentro de casa escravizada pela internet, celular e videogame, homens de terno e gravata de joelhos para o lucro, prazer e poder, céu pintado todo ele de preto, mas o preto da poluição.

O ar que o poeta respira não inspira a fazer poema bonito

A chuva cai pra saciar a sede do passarinho, aliviar a dor do encarceramento, para o poeta é a angústia de ver enchentes, deslizamentos, bueiros entupidos, cheiro horrível de esgoto, lixos esparramados por todos os lados

Mas ele ainda não perdeu o sonho de liberdade, a poesia também

Por isso existem mais semelhanças entre o pássaro e o poeta do que a natureza pode explicar.

(2016)