ONDE MORO
Onde moro
tem um rio sem cloro,
onde o peixe exclama
que é mais gostoso sem escama,
a galinha, saltando do puleiro,
cacareja que tem ovo no galinheiro...
Onde moro tem
uma moça com um neném,
que passa na minha rua, todo dia,
recitando, feliz, uma bela poesia,
não sei se de Quintana ou Bandeira,
rescende à flor de laranjeira...
Onde moro tem uma mata,
uma porção de cachorros vira-lata,
o que não falta é vizinha no muro,
você sabe, enxerga até no escuro,
tem um pomar cheio de frutas,
não tem câmeras, nem escutas...
Onde moro tem sabiá
que gorjeia lindo como os de lá,
tem um poeta que sobe no coreto
e declama em altos brados, mão no peito,
onde vivo, muito, mas muito feliz,
e o poeta não tira ouro do nariz...