O DURO BANHO NA ROÇA
O DURO BANHO NA ROÇA
Carlos Roberto Martins de Souza
Não havia eletricidade naquele tempo
Na roça ninguém tinha costume diário
Só quando da mato chegava barrento
Era duro enfrentar aquele duro cenário
Tomar banho todo dia não era comum
No máximo se lavava o rosto e braços
As pernas até o joelho ato era incomum
O limite era conseguir levar os braços
Arregaçar as calças era aquele suplício
Nem sempre estava e era sempre justa
Na hora de tirar a peça era um sacrifício
Para o trabalhador uma tarefa injusta
No verão era comum tomarmos banho
A coisa era mais simples na bica ou rio
No inverno o sofrimento era tamanho
Era impossível era insuportável o frio
Toda família tinha uma enorme bacia
Era o socorro de adultos ou crianças
Como uma rústica banheira ela servia
Nos livrava da sujeiras das andanças
Ela ficava sempre em lugar estratégico
Sempre de olho na sua próxima obra
Ser o primeiro era coisa de bom mágico
A mãe de vara na mão cuidava manobra
Era um você vai primeiro e não tinha fim
Só mesmo quando a mãe dava a ordem
Por ser eu o mais velho sobrava pra mim
A velha não permitia nenhuma desordem
Naquele enorme caldeirão de alumínio
Era colocado água no fogão para ferver
A aquela cena não era nenhum fascínio
Levavam para bacia era hora de sofrer
Quando achava que ele estava no jeito
Experimente vê se tá boa para o banho
Era um pé atrás do outro tremia o peito
Tocar a bunda na água muito estranho
De longe da cozinha da mãe se ouvia
Capriche na limpeza é tudo direitinho
Lave as orelhas lave o pescoço exigia
Tire a caraca para ficar bem limpinho
O banho tinha que ser rápido ligeiro
A água esfriava era um sofrimento
Não tinha o aquecedor de chuveiro
O banho era uma sessão de lamento
Os irmãos ansiosos esperavam na fila
O tal sabonete caseiro era de mamona
Uma bucha de parreira lavava até axila
Na conferência mamãe era muito durona
O caco de tijolo usado para o lixar o pé
Depois do banho era o corpo enxaguar
A cuia de água derramada abalava a fé
Deixava as partes íntimas a reclamar
Confesso que o banho de bacia tinha
Um sabor de romantismo confortante
Se tomado sob a luz daquela luzinha
De uma lamparina e sua luz brilhante
Os pés da molecada eram cascudos
De andar descalços pisando na lama
Ou na poeira não pareciam veludos
Alguns tão sujos tinham até escama
Sessenta e cinco anos depois a bacia
Com a pandemia a vida me fez lembrar
Dos tempos em que o que foi num dia
Viver livre poder da vida simples gozar