UM PASSEIO PELA MEMÓRIA

UM PASSEIO PELA MEMÓRIA

Carlos Roberto Martins de Souza

Com toda a confusão imposta a vida

Por uma doença traiçoeira e maldita

Na mundo inteiro deixou grande ferida

Nos tornamos reféns daquela desdita

Mesmo na roça fomos privados da vida

Nossa liberdade foi cercada e restrita

Mudamos costumes e até a nossa lida

O mundo a nossas casas ficou restrito

Era um tempo bom de viver e sonhar

O caldeirão na chapa a lenha no fogão

A vida na roça a simplicidade do lugar

No toco sentado olhando para o grotão

Tenho saudade da serra lá no rincão

As flores nativas casa de borboletas

Lá na matinha nascia o nosso ribeirão

A água escorria fendas e pelas gretas

Não havia ali solidão apenas o medo

De para o futuro olhar sem esperança

De crescer viver sem tem um enredo

E um dia de tudo acabar a confiança

Na mata fui criado e a escrita é pouca

No sol sei as horas com muita precisão

Na roça sou o professor a vida é louca

Sem relógio ou calendário na ocasião

Aprendi quando como plantar e colher

Meu trabalho na roça era prá não faltar

Na cidade o pão para o povão comer

E de sol a sol eu tinha que de tudo dar

Antigamente na roça a carne cozida

Em lata era mantida na banha de suíno

Era uma iguaria muito bem guardada

Fora do alcance de qualquer menino

Como manjar para mesa era levada

Aquela peça gordurosa era a rainha

Arroz feijão couve e angu era nada

Todos queriam a carne com farinha

Era tudo na arca num baú entulhado

O quartinho de guardar nossa tralha

Tudo dependurava como num galho

Até aquele velho chapéu de palha

Na casa guardava história da gente

Foi escrita com luta e muito deleite

A espingarda na parede enferrujada

Era a prova que era apenas enfeite

O fogão a lenha na cozinha reinava

Os cabides guardava os costumes

Espalhados pelos cantos mostrava

Não exalava dali nobres perfumes

O vidro que guardava a lavanda

As molduras com antigos retratos

Velhos amarelados na propaganda

A mala guardava segredos e fatos

A história de uma família abençoada

Olhares que guardavam lembranças

A viola que das modas fazia a toada

Era a rainha soberana das festanças

Dos amigos que guardavam carinho

Que chegavam com a sanfona afiada

As modas que ouvia no rádio baixinho

Faziam a festa barulhenta na noitada

Era o tempo que lentamente passava

Hoje as lágrimas que correm na face

Levam saudades de quem chorava

Mostrando o fim de um nobre enlace

É tempo de aprender uma grande lição

Dar valor a sua família e às amizades

Em meio ao caos desta dura situação

Estamos todos sujeitos a fatalidades

Carlos RMS
Enviado por Carlos RMS em 09/03/2021
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