Virtudes
Meu coração está
No abstrato e no concreto
Da vida em ser sozinho,
Flutuar livre, leve e frouxo
Entre imaginários labirintos,
E os almoços em família
Recortados no entra-e-sai
Daquele escandaloso
Mas tão vivente vizinho
Navegando em meio
Às brumas dos oceanos
Que encharcam meu peito
Ou no céu cumprido
De intocáveis preocupações,
meios poemas e inteiros boletos
Está meu coração
Abraçado ao vento
Que se arrasta pelo infinito
Cansado e sonolento
Às vezes o vejo recolhido;
Deitado em meio à culpa,
Repousando a cabeça
No passado atravessado
Sem coragem
De se olhar no espelho
Por preguiça
Ou pelo sufocamento
De ser o coração
De um poeta em desespero
Noutras,
Sinto o cupinzeiro atrevido
Traçando planos de vingança
Na tentativa
(de guarida ou abrigo)
Destruir os sonhos
Desse meu coração
Mata Atlântica
Ele me lembra
Os óculos da minha amada
Que vez por outra se esconde
Mas nunca perde o foco
Naquilo que mais importa:
Receber e dar amor
Mesmo que a alma
Tenha sido
Pelo mundo maltratada
Entendo quando
Sentes medo do novo,
Com suas pernas
Descansando dependuradas
Ao assistir o enforcamento
Do riso rebolando por entre
O canino cerrado
E a dor de ser engolido insosso
Meu coração maltrapilho
Tens o som do carro da pamonha
Em dias ensolarados
Na estrada da vida
Por onde piso;
Tens o cheiro de casa da vó
No interior do interior de mim
E das lembranças
De que estamos vivos
E isso,
Nos dias de estreitas memórias
É uma grande façanha!