MONÓLOGO DE NESTOR TANGERINI 2

VIDA NOVA

(Monólogo)

Vamos ter (quanta esperança!)

felicíssimo Ano Novo

- ano de paz e bonança,

para a desforra do povo.

Ano Bom todo ventura,

Ano Novo bom de fato,

de casa, roupa, gordura,

tudo a resto de barato.

Predizem os governantes

- numa só voz, que ressoa

em discursos palpitantes

vidinha pra lá de boa.

O comerciário, o bancário;

os generais, os sargentos;

o operário, o funcionário

- terão, todos, bons aumentos.

Seu Lacerda, em relutância,

garante, com braço forte,

dar-nos água em abundância

e resolver o transporte.

Todo aquele cidadão,

que passa as noites insone,

pensando um pistolão

- vai ganhar seu telefone.

Os policiais, pontos altos

das previdências marcantes,

vão acabar com os assaltos

- suicidando os assaltantes.

Não vai mais (fazem-se apostas)

um desditoso mortal

morrer de vagão nas costas

em desastre da Central.

A fartura vai ser baita

e a existência apetecida.

Vai ser a fase da gaita,

da vida cheia de vida!

O pobre, cantando loas

então da miséria escape,

vai colocar mil coroas

sobre a cova da COFAP.

Eu, porém, algo descrente,

da luta no torvelinho,

desconfiado e prudente

- procurei um adivinho.

E ele me disse então isto,

depois de meditação:

- Isso tudo está previsto

para a outra encarnação.

Autor: Nestor Tangerini

Arquivo Nelson Tangerini

Nelson Marzullo Tangerini
Enviado por Nelson Marzullo Tangerini em 01/01/2021
Reeditado em 01/01/2021
Código do texto: T7149695
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