Vai e (não) vem

Três da madrugada: José pega no tranco

mistura a massa, estica, imprensa, bate...

assa o pão.

Quatro da manhã: Chico acorda

engole o café, escova os dentes, veste a roupa...

correndo.

Liga o motor, acelera, freia, para, recebe dinheiro, passa troco...

Ainda de madrugada:

Inúmeras Marias, Josés, Chicos, Fabrícios, Ronaldos... invadem ruas,

lojas, fábricas, farmácias, hospitais...

Maria dá aulas online...

José vende, atende, produz...

Chico dirige pelas ruas, levando e trazendo passageiros...

Fabrício vigia, guarda, protege...

Ronaldo consulta, receita remédio, cura, opera...

Uns servem, outros ensinam e tantos vão e vêm fazendo alguma coisa...

E neste vai e vem

a crise chegou:

Maria entrou em depressão

José continua

Chico foi despedido

Fabrício parou na bala perdida

Ronaldo nunca mais voltou da UPA...

E neste salve-se quem puder

Uns continuam...

com medo...

Outros não voltaram mais...

e tantos não têm mais aonde ir.

João Rodrigues – Reriutaba – Ceará

Poeta do Riacho
Enviado por Poeta do Riacho em 17/12/2020
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