O ANCIÃO ANCIOSO
O ancião, de tez já pergamínea
de alvs barbas e mortiço olhar
tendo três pernas, uma já na cova (1)
observava um infante a brincar.
--Quanta energia, disse pra si mesmo,
como eu queria à esse tempo voltar
Bem consciente de quão pouco tempo
ainda lhe restava de existência
pediu à Deus que tivesse clemência,
e lhe fizesse jovem outra vez
Mas Deus, se ouviu, ,fez ouviu ouvidos moucos
e aos poucos o velho foi cedendo
à morte, que com seu manto horrendo,
o carregou enfim para o além.
De lá então, onde o tempo não conta
observava a vida que deixara
com uma atenção muito particular
para aquele jovem que invejara.
Viu então se abater sobre a Terra
calamidades, fome, peste, guerras
atrocidades, chacinas, desmandos,
em nome de ninguém sabia o quê
e o infante, retrato vivo da morte
pra quem deixar a vida seria uma sorte,
só pedia a Deus para morrer.
O ancião agradeceu contristado
à Deus por ter negado seu pedido,
pois, se tivesse ficado vivo
para passar por tudo aquilo,
foi bem melhor afinal ter morrido!!
(1) Enigma da esfinge: "decifra-me ou te devoro. O que é que de manhã tem quatro pernas; de dia tem duas, e de noite tem três."