O ANCIÃO ANCIOSO

O ancião, de tez já pergamínea

de alvs barbas e mortiço olhar

tendo três pernas, uma já na cova (1)

observava um infante a brincar.

--Quanta energia, disse pra si mesmo,

como eu queria à esse tempo voltar

Bem consciente de quão pouco tempo

ainda lhe restava de existência

pediu à Deus que tivesse clemência,

e lhe fizesse jovem outra vez

Mas Deus, se ouviu, ,fez ouviu ouvidos moucos

e aos poucos o velho foi cedendo

à morte, que com seu manto horrendo,

o carregou enfim para o além.

De lá então, onde o tempo não conta

observava a vida que deixara

com uma atenção muito particular

para aquele jovem que invejara.

Viu então se abater sobre a Terra

calamidades, fome, peste, guerras

atrocidades, chacinas, desmandos,

em nome de ninguém sabia o quê

e o infante, retrato vivo da morte

pra quem deixar a vida seria uma sorte,

só pedia a Deus para morrer.

O ancião agradeceu contristado

à Deus por ter negado seu pedido,

pois, se tivesse ficado vivo

para passar por tudo aquilo,

foi bem melhor afinal ter morrido!!

(1) Enigma da esfinge: "decifra-me ou te devoro. O que é que de manhã tem quatro pernas; de dia tem duas, e de noite tem três."

Aldo Silva
Enviado por Aldo Silva em 16/12/2020
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