Água da bica
Água da bica (José Carlos de Bom Sucesso – Academia Lavrense de Letras)
Tarde de domingo,
Na roça do gringo.
Lá vai a Dona Maria,
Sobre a cabeça, uma bacia,
Com os pratos e talheres do dia,
Pois lá não tem pia.
São pratos sujos de arroz, feijão,
Não pode esquecer do macarrão.
Descendo a ladeira,
Conversando como uma lavadeira.
Vai toda feliz,
De vez em quando coça o nariz.
Não olha para baixo e não meche a cabeça,
Fica com medo de quebrar qualquer peça,
De porcelana,
Que pertenceu à finada Joana.
Pisa na tábua da bica,
No fundo, onde fica.
Tira a bacia da cabeça,
Pensa estar no teatro, em uma peça.
Sorri para plateia,
De pássaros e moscas,
Para ela, uma grande ideia,
Divertir-se jogando aos pássaros, farelos de roscas.
A água vai batendo na porcelana,
Como uma grande cachoeira plana.
Assim, vai cantando...
A água caindo,
Fazendo espumas brancas e descendo rego abaixo...