O PINTOR
Será que pensa?
Será que pinta?
O que lhe dizem seus companheiros,
Pincel e tinta?
Seu pensamento vagueia enquanto pinta,
Numa mulher, numa praia, paisagem.
Serão as compras do mês?
Seu filho?
Nada disso, tudo é miragem.
A inspiração demora
Tem vezes que nem vem
Mas, e as encomendas?
Aí ele pinta rostos, cavalos,
Retratos, nada importante,
Ninguém
"Estou ficando velho", pensa
Mais uma encomenda,
Algum alento.
Ele então preenche o vazio da tela, mas não o seu:
Reconhecimento.
Um dia sonhou ser famoso;
Figurar nas galerias entre os grandes mestres,
Renoir, Monet, Rembrandt, da Vinci
Por que não?
Mas o tempo foi passando,
E seu atelier sempre foi a praça, entre os bancos do jardim
Até que um dia alguém lhe pediu um retrato
Ele, luz vencida, realizou o pedido
Sua fama se espalhou
E o pintor dentro dele, perdido ficou;
Hoje sabe que seus sonhos ficaram pelo caminho;
Os boletos não esperam, são tratores da arte de sonhar.
A gente então se dá conta, do muito que deixou de lutar;
A idade veio, o filho cresceu,
E o pintor dentro dele?
Onde agora estará?