O PINTOR

Será que pensa?

Será que pinta?

O que lhe dizem seus companheiros,

Pincel e tinta?

Seu pensamento vagueia enquanto pinta,

Numa mulher, numa praia, paisagem.

Serão as compras do mês?

Seu filho?

Nada disso, tudo é miragem.

A inspiração demora

Tem vezes que nem vem

Mas, e as encomendas?

Aí ele pinta rostos, cavalos,

Retratos, nada importante,

Ninguém

"Estou ficando velho", pensa

Mais uma encomenda,

Algum alento.

Ele então preenche o vazio da tela, mas não o seu:

Reconhecimento.

Um dia sonhou ser famoso;

Figurar nas galerias entre os grandes mestres,

Renoir, Monet, Rembrandt, da Vinci

Por que não?

Mas o tempo foi passando,

E seu atelier sempre foi a praça, entre os bancos do jardim

Até que um dia alguém lhe pediu um retrato

Ele, luz vencida, realizou o pedido

Sua fama se espalhou

E o pintor dentro dele, perdido ficou;

Hoje sabe que seus sonhos ficaram pelo caminho;

Os boletos não esperam, são tratores da arte de sonhar.

A gente então se dá conta, do muito que deixou de lutar;

A idade veio, o filho cresceu,

E o pintor dentro dele?

Onde agora estará?

Cássia de Castro
Enviado por Cássia de Castro em 06/10/2020
Reeditado em 16/11/2020
Código do texto: T7080950
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