VIDA EM VÃO
VIDA EM VÃO
Anda só
pela estrada
deserta;
tem-na como
cúmplice
de tua solidão;
não sabe
onde vai
em hora incerta;
nem o que
quer para
a tua vida
em vão.
Sequer ouve
o ruído
de teus passos
na estrada;
nem quão
palpita
o teu coração;
mas sente
a própria vida
desalentada;
sem entender
porque passa
por alguma
provação.
Em tua mudez
congênita,
cresceu sem
a voz carnal;
quando sente
fome ou sede,
apenas balbucia
e pede
com um gesto
de mão;
em tua condição
de mendigo
deficiente,
no entanto,
não lhe falta,
pra viver,
o fluido vital;
só ouve
a tua voz,
quando dorme
e fala,
pela voz
espiritual.
Às vezes
anda ladeando
a estrada
movimentada,
sem deixar
de viver
como um
solitário
inveterado;
mas enquanto
repousa
ou dorme,
restaurando
tua vida
cansada,
sente o alívio
de teu outro
viver
momentâneo,
como um
espírito
desdobrado.
Adilson Fontoura