O último encontro
O ano eu já nem me lembro, mas os detalhes eu não esqueci.
Ela ia se mudar, mas não queria ir antes de dizer um até logo, nem sem entregar o presente, um desenho, um livro, o livro que era co-autora.
Ela ligou para ele, ele disse que podia ser terça, e assim foi.
Chovia naquela terça, fazia frio também, o sol se escondeu como sempre fazia quando os dois iam se encontrar.
Ela se arrumou toda, e se atrasou. Ele se enrolou todo, e se atrasou mais ainda.
Eles chegaram em tempos diferentes, na vida, no coração, no shopping.
Eles se abraçaram, riram, comeram, conversaram. Ela pediu para ele escrever um bilhete para recordação, para acalmar o coração no meio do furacão das mudanças. Ele escreveu naquele papel, amarelo, bonitinho, versos profundos e reais sobre quem era ela, e como ele a enxergava. Eles se perderam no tempo, que como sempre passava apressadamente. Ele se levantou, e foi até a porta do shopping, eles disseram até breve. Ela deixou um pouco de sua alma no bolso do casaco dele, e chorou ao vê-lo sumir no meio da multidão.
Ironicamente o até logo tornou-se em adeus, depois daquele dia aqueles olhos jamais se cruzaram, nem os abraços se abraçaram. Eles até trocaram umas palavras, mas com o tempo tudo virou quase nada, e depois se reduziu a menos que nada.
Essa história dá uma saudade, mas a beleza não compensa o risco, a intensidade não faz secar toda água debaixo da ponte. As rugas não superam o desejo pelo chorinho do novo que está prestes a nascer .