Iniquidade
A metrópole desumanizada
Detém-se aflita com a pandemia...
Sem haurir a lição - só a agonia -,
Insensível, egoísta, fechada.
No trânsito, os semáforos nervosos
Impõem interrupções desagradáveis,
Por misericórdia aos miseráveis
Que abordam, em contatos "perigosos".
São desempregados que vendem balas,
Água...ou exibição de malabarista,
De circo falido, que mais se arrisca
Na busca do pão de que a Oração fala.
De tochas acessas nas mãos, engole
Fogo, cuspido imediatamente,
Pois soprou o álcool tempestivamente,
Por habilidade de mulher-fole.
Sexagenária, de veste brilhosa
E velha (tem do auge da forma a idade),
Mas, pra quem observa, vê dignidade,
Luta e resignação...Maravilhosa!
Já vai abrir o semáforo, contudo,
De dezenas de carros, um apenas
Tem os vidros baixados, de onde acena
Alguém, sem máscara, e um real...É tudo!
Idosa, ignorante, pobre e sem máscara,
Realmente, se tem que prevenir,
Não se deve, pois, os vidros abrir...
Hipocrisia! Para que usar máscara?
Tem álcool na boca e fogo lança:
Não sobreviverá o vírus mortal!
Só desamor, na carona do mal,
Imune às lições...destemperança!
Quanta dor inda a reclamar ação
Pra redenção da iniquidade humana?...
Quando a Verdade que de Deus emana?
Sem caridade não há salvação!
Sobral, 13 de agosto de 2020.