Iniquidade

A metrópole desumanizada

Detém-se aflita com a pandemia...

Sem haurir a lição - só a agonia -,

Insensível, egoísta, fechada.

No trânsito, os semáforos nervosos

Impõem interrupções desagradáveis,

Por misericórdia aos miseráveis

Que abordam, em contatos "perigosos".

São desempregados que vendem balas,

Água...ou exibição de malabarista,

De circo falido, que mais se arrisca

Na busca do pão de que a Oração fala.

De tochas acessas nas mãos, engole

Fogo, cuspido imediatamente,

Pois soprou o álcool tempestivamente,

Por habilidade de mulher-fole.

Sexagenária, de veste brilhosa

E velha (tem do auge da forma a idade),

Mas, pra quem observa, vê dignidade,

Luta e resignação...Maravilhosa!

Já vai abrir o semáforo, contudo,

De dezenas de carros, um apenas

Tem os vidros baixados, de onde acena

Alguém, sem máscara, e um real...É tudo!

Idosa, ignorante, pobre e sem máscara,

Realmente, se tem que prevenir,

Não se deve, pois, os vidros abrir...

Hipocrisia! Para que usar máscara?

Tem álcool na boca e fogo lança:

Não sobreviverá o vírus mortal!

Só desamor, na carona do mal,

Imune às lições...destemperança!

Quanta dor inda a reclamar ação

Pra redenção da iniquidade humana?...

Quando a Verdade que de Deus emana?

Sem caridade não há salvação!

Sobral, 13 de agosto de 2020.

Carlos Augusto Guimarães
Enviado por Carlos Augusto Guimarães em 13/08/2020
Reeditado em 21/05/2024
Código do texto: T7034500
Classificação de conteúdo: seguro