Da Janela e o Letreiro
Sou um restinho daquele vento que não foi ventado
fico pelas janelas durante a noite, poucos carros
às vezes sou um prédio e fico estático olhando meu reflexo
são tantas luzes, quando vejo, sou uma gota colorida escorrendo
pelos para-brisas e sumindo ao chegar junto dos faróis
devagar, bem devagar, até a própria noite escurece
os carros já não passam mais, apagam-se algumas luzes
sou aquele letreiro que resta, piscando em vermelho
devagar, bem devagar, até a própria noite anoitece
sou essa lágrima que quer cair, mas não toca o próprio nariz
sou essa voz entalada, esse grito guardado, esse silêncio acorrentado
sou essas mãos passando pelo rosto, esses dedos amassando as sobrancelhas
sou essa luz que de repente se acende e cria o descompasso
e assim a vida passa e eu passo por ela pensando ser o único
que passa a madrugada passo a passo.