Cortinas

Balancei as cortinas da minha sala

Caíram preces de luz e gotas d'água

Ouvi gritos, os agudos

Ouvi o grave dizer que amava

Caíram sobre mim alguns tropeços

e presentes e desculpas

Decolaram lá de cima gotas de suor

e pousaram acerca do meu nariz

Entre as partículas de poeira e

teias de aranha, pairaram sorrisos,

desejos e conquistas. As teias caíam

entrelaçando-se com as viagens tão sonhadas

Mil e quatro revistas abriram-se e

desceram juntas de jornais.

Incontáveis cenas do cinema

argentino foram atiradas a mim

Com toques leves no canto esquerdo,

romperam-se do alto fadigas,

sonolências e xícaras de chá bem amargo

O líquido escorreu pelo cabelo, e,

feito um rio, arrastou diversos

comprimidos em direção aos meus lábios

Fazendo ondas com o pano, o sono

virava empenho, a alegria virava dor

e eu virava-me para sacudi-lo ainda mais

As falsas formalidades caíam. O som

da falsa gentileza imitava o vento

Toda cordialidade esvaía-se pelo ar

Caíram preces de luz e gotas d'água

Ouvi gritos, os agudos

Ouvi o grave dizer que amava.

Vitor Romano
Enviado por Vitor Romano em 03/08/2020
Código do texto: T7025243
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