Cortinas
Balancei as cortinas da minha sala
Caíram preces de luz e gotas d'água
Ouvi gritos, os agudos
Ouvi o grave dizer que amava
Caíram sobre mim alguns tropeços
e presentes e desculpas
Decolaram lá de cima gotas de suor
e pousaram acerca do meu nariz
Entre as partículas de poeira e
teias de aranha, pairaram sorrisos,
desejos e conquistas. As teias caíam
entrelaçando-se com as viagens tão sonhadas
Mil e quatro revistas abriram-se e
desceram juntas de jornais.
Incontáveis cenas do cinema
argentino foram atiradas a mim
Com toques leves no canto esquerdo,
romperam-se do alto fadigas,
sonolências e xícaras de chá bem amargo
O líquido escorreu pelo cabelo, e,
feito um rio, arrastou diversos
comprimidos em direção aos meus lábios
Fazendo ondas com o pano, o sono
virava empenho, a alegria virava dor
e eu virava-me para sacudi-lo ainda mais
As falsas formalidades caíam. O som
da falsa gentileza imitava o vento
Toda cordialidade esvaía-se pelo ar
Caíram preces de luz e gotas d'água
Ouvi gritos, os agudos
Ouvi o grave dizer que amava.