Dias estranhos
Mesmo carregando o peso da estranheza desses dias
Que se tornou nata em meio a toda pandemia
Meu coração leve na normalidade insistia
Em bater no mesmo compasso em que antes vivia
O mundo inteiro experimenta outra frequência
Os corações batendo ainda em meio a tanta decadência
Eu escondo qualquer sinal de carência
Que possa desnudar minha frágil existência
Quantas dúvidas esquecidas até agora
Quantas certezas cultivadas a cada hora
Nesses meses assistindo despontar da aurora
Nublada por dentro, solar por fora
É meio ano que se escorreu ao pé de um calvário
E eu ainda tento entender como o mundo virou ao contrário.
E reorganizo meu quebra cabeça do cenário
Até me encontrar na data certa do calendário
E tentando entender pra impedir o pior
Que eu preserve o que em mim há de melhor
A esperança de ver tudo renascer ao meu redor
Que valha a pena a luta por um bem maior.
Que se salve o mais bonito sentimento
Que não se perca nem apodreça com o tempo
E se fortaleça pra enfrentar o momento
Em que o mais forte ainda parece ser o sofrimento
E quando os abraços voltarem a existir
E de nossas casas pudermos seguros sair
Espero ter aprendido pelos olhos transmitir
O que as máscaras tentaram impedir
E nessa pausa obrigatória que fizemos
Da vida expectadores nos tornemos
Pois a vida inteira aprendemos
Que apenas uma vez vivemos.
E me permita do pensador discordar
A morte aqui é a única singular
O plural da vida é encontrar
Todos os dias, motivos pra voar.
[vive-se todos os dias. Morre-se só uma vez