QUARENTENA
enquanto o tempo está parado
e a vida se dobra para o lado de dentro
entre lavar sacolas de compras
pintar, costurar, cozinhar
ouvir as bachianas
um rock ou algum mantra
passam por mim dias e noites
de uma longa quarentena
que já vai a cem dias
lá fora há tamanho desperdício
de vidas que poderiam ser poupadas
há carência de abrigo
de consolo
de socorro
de paz
de futuro
aqui estamos em poucos
dos tantos que amamos
congregados em
tarefas, risadas, receios
conversas, filmes, refeições
palmilho cada pequeno canto
da casa e do quintal
- o limite imposto à segurança -
e busco as afáveis minúcias
que aquietam meu coração
nem tudo são flores
... mas ainda há flores
Helenice Priedols