“I CAN NOT BREATH, MAN, PLEASE”.
“I CAN NOT BREATH, MAN, PLEASE”.
Os navios negreiros ainda navegam nos meus pelos
Posso sentir o medo ancestral no palco confinado
Nos porões lotados de corpos nus de náufragos
Sob correntes os homens viam as meninas levadas
Pelos marinheiros, empoderadas de sexo e cachaça
O escorbuto grassava, as viroses minavam as minas
Graciosas crianças amigadas do tráfico negreiro.
Os navios negreiros fazem parte dos meus pelos
Ainda agora agonizam nas ruas das cidades
Gritam sob os pesados joelhos das milícias
Protegidas por leis que impedem o respirar
Milicianos de farda montam guarda no ar
Malucos armados se acreditam soberanos
Da sádica ingratidão do sonho americano.
Os navios negreiros no sangue dos meus pelos
A mulher grávida abraça o recém nascido
Ao caminhar pela prancha no navio flibusteiro
Jogada ao mar para aplacar o peso da carga
O cordão umbilical naufraga. A tempestade
Invade a nau e lança ao mar George Floyd
No século XXI ele ainda não pode respirar.
Os navios negreiros velejam nos meus pelos
Ainda somos negros na prancha sobre o mar
Lançados como carga pirata os Joãos Pedros
Acossados, oprimidos e atirados ao mar
Mateus e Marcos, Zileides, Flávias e Alines
Marílias, Majus e Rosalindas agora, hoje
São tantos e tantas banidos do respirar.