“I CAN NOT BREATH, MAN, PLEASE”.

“I CAN NOT BREATH, MAN, PLEASE”.

Os navios negreiros ainda navegam nos meus pelos

Posso sentir o medo ancestral no palco confinado

Nos porões lotados de corpos nus de náufragos

Sob correntes os homens viam as meninas levadas

Pelos marinheiros, empoderadas de sexo e cachaça

O escorbuto grassava, as viroses minavam as minas

Graciosas crianças amigadas do tráfico negreiro.

Os navios negreiros fazem parte dos meus pelos

Ainda agora agonizam nas ruas das cidades

Gritam sob os pesados joelhos das milícias

Protegidas por leis que impedem o respirar

Milicianos de farda montam guarda no ar

Malucos armados se acreditam soberanos

Da sádica ingratidão do sonho americano.

Os navios negreiros no sangue dos meus pelos

A mulher grávida abraça o recém nascido

Ao caminhar pela prancha no navio flibusteiro

Jogada ao mar para aplacar o peso da carga

O cordão umbilical naufraga. A tempestade

Invade a nau e lança ao mar George Floyd

No século XXI ele ainda não pode respirar.

Os navios negreiros velejam nos meus pelos

Ainda somos negros na prancha sobre o mar

Lançados como carga pirata os Joãos Pedros

Acossados, oprimidos e atirados ao mar

Mateus e Marcos, Zileides, Flávias e Alines

Marílias, Majus e Rosalindas agora, hoje

São tantos e tantas banidos do respirar.

DECIO GOODNEWS
Enviado por DECIO GOODNEWS em 04/06/2020
Reeditado em 29/06/2020
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